Os riscos de desaparecimento de determinadas técnicas tradicionais utilizadas na produção de algumas cerâmicas, doces, queijos, carnes curadas e bebidas é real e os fatores que podem causar a perda desse patrimônio são diversos: diminuição do valor comercial local reduzindo a rentabilidade dos produtores e os direcionando a buscar outras alternativas de renda; êxodo das comunidades rurais, dos povos tradicionais e a diminuição de pessoas capazes de produzir segundo a tradição; perda de transmissão do saber entre as gerações quando os detentores desse saber geralmente são idosos ou as capacidades necessárias para produzir pertencem a poucos produtores. A lista de exposição de motivos para conhecermos, salvaguardarmos e consumirmos o patrimônio material e imaterial da diversidade brasileira não finda. Está em nossas mãos fazer a economia circular, o bem circular. Privilegiar o produto nacional, pensar em medidas de desenvolvimento e valorização para a propriedade intelectual, remuneração dos produtores e artesãos é também estabelecer relações justas e duradouras de perpetuação do saber geracional. Com isso, todo mundo ganha, toda a cadeia se beneficia, se retroalimenta e daremos, finalmente, a César o que a ele pertence. 

Através da oralidade, inventariar o saber popular, as técnicas, modos de fazer, produtos especiais e seus mestres populares são medidas de segurança, redução das desigualdades e desenvolvimento socioeconômico para evitar que o conhecimento local e nacional se perca com a alternância das práticas e da faixa etária das populações. Transmitir aos que virão, as nossas lições e as lições de quem veio antes de nós é uma carta de amor aberta, endereçada ao tempo, onde o saber não se perde, se perpetua. É também garantir que deixaremos algo de valor que leva o tempo de uma vida para ser construída, deixaremos a identidade como herança, a certeza de fazer parte, de ser composto por muitas partes, de ter referência. 

Amamos o Brasil produtivo, diverso, criativo, empreendedor, cultural, múltiplo e forte e cada vez que conhecemos melhor quem somos, poderemos amar ainda mais nossa origem e entender a grandeza do que é ser “gigante pela própria natureza”.